CONSULTA PRÉVIA ÀS COMUNIDADES PARA ANUÊNCIA SOBRE O PROJETO HÃMHI TERRA VIVA
11 a 14 de março 2023
Esta atividade foi realizada por iniciativa da CIMOS e do Instituto Opaoká para a apresentação do escopo do projeto, de seu cronograma e das principais atividades previstas a todas as comunidades Tikmũ’ũn. Muito embora o projeto foi construído a partir de processos de construção junto aos Tikmũ’ũn em projetos anteriores, e no âmbito da UFSB, da UFMG ou de outras iniciativas, esta consulta teve o intuito de formalizar a proposta junto aos Tikmũ’ũn. A participação e interesse pelo projeto foi efusiva e entusiasta, marcada por momentos de cantos e celebração coletiva, demonstrando como esta demanda já vinha sendo elaborada entre os Tikmũ’ũn.
É importante destacar que todo o processo da Consulta foi realizado em língua Maxakali, como forma de garantir a soberania linguística dos povos Tikmũ’ũn. As comunidades ressaltaram que esta foi a primeira vez que as instituições vieram até eles com o cuidado de providenciar tradutores, como forma de garantir a ampla participação das comunidades e compreensão do teor da proposta.
Foram realizadas reuniões em todas as Terra Indígenas, segundo a cronologia:
11/3/23: TI do Pradinho
12/3/23: TI de Água Boa
13/3/23 manhã: Aldeia Verde
13/3/23 tarde: Aldeia-Escola-Floresta
14/3/23 manhã: TI Cachoeirinha
OPAOKÁ, MPMG, CIMOS, UFSB, UFMG, ESCOLAS INDÍGENAS MAXAKALI, MPF
Integrantes das viagens:
CIMOS: Marcelo Vilarino e Deliene Fracete Gutierrez
MPF: Rodrigo Horta
Instituto Opaoká: Mara Vanessa, Rosângela Tugny (UFSB)
UFMG: Vanessa Tomaz, Roberto Romero
FUNAI: Ilton Passos, Irislene Rocha
Esses aqui são os pais dos yãmĩyxop
E esses daí vêm de longe trazendo coisas boas!
Passaram por aí chamando para nós nos reunirmos aqui e esse caminho é muito bom! Estamos aqui juntas, as mães, para fazermos nossas falas fortes!
Eu estou falando para vocês: vamos fazer bem direitinho, parentes, primas e primos.
Vamos desenhar bem bonitinho para os yãmĩyxop olharem o nosso trabalho!
Para que as matas e as águas voltem para nós!
A mata vai resfriar a água para a gente beber da água boa de novo!
A mata vai trazer a água fria pra gente beber de novo!
E os pés de laranja também vão beber dessa água e Tupã vai iluminar para que eles deem muitos frutos!
E também as bananeiras!
Pra gente comer junto com os yãmĩyxop todos! Nós vamos comer junto com yãmĩyxop
Pra gente andar por aí colhendo e comendo…
Esses que estão aqui são os nossos troncos de verdade e as fala das mães são muito fortes!
Eu gosto muito das mães!
Não abandonem as mães dos yãmĩyxop!
É isso!
Sandra Maxakali
Oficina de etnomapeamento, Água Boa, Aldeia Ãmãxux, maio de 2023
Homens e mulheres
Eu já vim na terça-feira
e deixei minhas palavras para vocês.
Aqui tem funcionário,
estudantes, professores…
É isso que estamos fazendo aqui.
Eu gostei muito de conversar sobre a mata.
Eu penso assim sobre essa terra:
Essa terra aqui é grande, e é nossa!
Não é dos não indígenas, não!
Tinha muita mata antigamente, dos Tikmũ’ũn.
Os antigos não precisavam de remédios
Os antigos não tinham arroz
e outras coisas que a gente tá comendo.
Eles comiam só frutas.
Banana, cará e outras frutas.
E caçavam bichos para comer
Eles não passavam fome no tempo dos antigos.
Mas agora nós estamos passando fome.
As coisas estão faltando para nós.
Tem dinheiro, mas a gente tá passando fome, não é?
É assim. Os Tikmũ’ũn antigos só comiam coisas que tinham na mata.
Vocês já falaram muito
e eu gosto assim.
Conversar sobre a mata foi muito bom!
Tem remédio que a gente tá precisando.
Tem aquele que usa pra passar no corpo
da criança para crescer rápido.
Tem remédio para os dentes
da criança nascerem mais rápido.
E tem para tirar dente também.
Nossos professores de cultura
querem ensinar para crianças
Mas não tem mais as plantas para ensinarmos
para as crianças, entendem?
Onde nós vamos encontrar
para mostrar para as crianças?
Onde que vamos encontrar os remédios
para mostrar para as crianças?
E ensinarmos: “esse aqui não pode cortar! É remédio!”
Então é isso que eu tô falando aqui
Não é só “professor de cultura” quem conhece os cantos dos yãmĩyxop
Vocês que conhecem muitas coisas também são professores de cultura!
Não é só maracá que é cultura, né?
Tudo é cultura!
Existe a nossa cultura e a cultura dos nossos parentes indígenas
E essa cultura é nossa cultura!
Não é só quem conhece os cantos de Yãmĩyxop que conhece a cultura
Vocês sabem muitas coisas da cultura também!
Eu estou pensando muito…
Porque sem a mata eu também
não tinha nada pra fazer.
Primeiro eu vi Lutimar
e outro colega plantar
Depois, vieram outros querendo fazer de novo,
mas a gente não queria fazer de qualquer jeito!
Agora que esses aí vieram de novo, nós vamos cuidar das mudas junto com eles!
Para ficar bom, todos nós vamos ajudar muito!
Quando quiser fazer as coisas,
tem que avisar pra todo mundo fazer assim
igual hoje, para terminar de uma vez.
Quem quiser ajudar também pode vir.
E é essa a minha fala sobre os Yãmĩyxop
Yãmĩyxop é assim.
Hoje eles não têm por onde andar, por isso moram longe!
Vejam só!
A kuxex (casa dos cantos) está ali e lá atrás naquela mata tem um bocado de Yãmĩyxop
Eles precisam vir de longe para poder cantar aqui à noite!
Então foi muito boa essa oficina da mata.
Vai ter água no meio da mata como o pessoal falou.
Vai ter água limpa!
Vai ter fruta!
E vão ter muitos pássaros diferentes!
Daqueles que andam no chão…
E daqueles que vivem na água.
Para a terra ficar fresquinha
e ter água dentro da mata.
E sons de pássaros diferentes
para alegrar a gente.
Olha só aqui, a gente não escutou
nenhum som de pássaro aqui!
Mas quando a gente vai para a outras matas
Nas terras dos nossos parentes
Lá onde a gente faz o curso,
Onde tem mata grande
A gente escuta muitos sons diferentes!
A gente vê os bichos caminhando…
A paca chega perto de nós.
E muitos outros bichos que vivem lá.
Então nós vamos cuidar
para voltar a mata para nós.
Não vamos perder essa chance porque os
Yãmĩyxop também vão nos ajudar.
Vai sair muita coisa diferente!
Nós não vamos perder essa chance!
Porque aqui no Pradinho, todos já se juntaram e se fortaleceram para continuar
E vamos fortalecer esses não indígenas também que vieram
Para continuarem correndo atrás das coisas pra nós também
Entenderam? É isso.
Damazinho Maxakali
Oficina de etnomapeamento, maio de 2023